Construindo o legado familiar: A importância da arquitetura sucessória no crescimento da indústria vinícola brasileira
- Em 18/10/2023
Em nosso último artigo, trouxemos a vocês um pouco da história da Samsung, uma das maiores empresas familiares mundiais, conhecida por todos por seus aparelhos de telefonia móvel e televisores.
Já contamos a história de outras empresas familiares brasileiras, como a família Moura das “Baterias Moura” (https://azevedoneto.adv.br/baterias-moura-de-pernambuco-para-o-mundo-a-estrategia-de-sucesso-para-as-proximas-geracoes/), família Trajano, da “Magazine Luiza”, do Grupo Lupo e da Hering (https://azevedoneto.adv.br/profissionalizacao-da-gestao-preservando-e-aumentando-o-legado-familiar/).
Hoje, vamos falar de negócios familiares em outros segmentos do mercado, o mercado vinicultor.
Uma das vinícolas familiares mais antigas do mundo e da Itália é a Barone Ricasoli, na Toscana, Itália, que data de, aproximadamente, 1141.
No Brasil, a vinícola familiar mais antiga é a Vinícola Peterlongo, que nasceu em Garibaldi, Rio Grande do Sul, em 1910, ou seja, há 113 anos.
A Vinícola Peterlongo é conhecida como a primeira vinícola do Brasil a produzir espumantes pelo método champenoise (que é o método tradicional de produção de champanhe). A vinícola foi pioneira na produção de espumantes no país e desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento da indústria vinicultora brasileira.
Uma curiosidade, de acordo com os acordos internacionais e a legislação brasileira, apenas os produtores de vinhos da região de Champagne, na França, têm o direito exclusivo de utilizar a denominação “Champagne“. Essa proteção é estabelecida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e é baseada nas indicações geográficas protegidas. Porém, a Peterlongo ganhou, judicialmente, o direito de usar tal denominação, de acordo com decisão de 1974 do Supremo Tribunal Federal.
A Vinícola Peterlongo é administrada pelos herdeiros e sucessores de Manoel Peterlongo, fundador da empresa.
Por sua vez, a família Miolo começou a produzir vinhos em 1897, quando o italiano Giuseppe Miolo chegou às Serras Gaúchas. E, em 1990, com a segunda geração da família, a Vinícola Miolo foi oficialmente fundada, investindo-se em tecnologia, know how e adotando práticas modernas de vinificação.
Atualmente, a Miolo é administrada pela terceira geração da família, expandindo a produção de uva na Serra Gaúcha, Vale dos Vinhedos, Campanha Gaúcha e Vale do São Francisco.
O que notamos em comum entre essas duas histórias? A dedicação das gerações posteriores em investir no negócio familiar e preservar o legado de patriarcas e fundadores!
Hoje, vamos conversar um pouco sobre as ferramentas de profissionalização da gestão e preparação da sucessão, para garantir a harmonia entre herdeiros e sucessores, que permitem que, mais do que se preserve, mas sim e expanda o patrimônio familiar:
- Um breve histórico: empresas familiares destruídas por conflitos familiares
- Um breve histórico: famílias que construíram legado que sobreviveu ao tempo
- Qual a estratégia adotada pelas famílias que perpetuaram o legado?
- Quais os passos para a profissionalização da gestão?
- Crescimento em meio aos desafios.
Um breve histórico: empresas familiares destruídas por conflitos familiares
Conflitos entre sócios são comuns em quaisquer sociedades, sejam elas familiares ou não. Porém, nas empresas familiares tais conflitos trazem consequências ainda mais graves ao impactar nas relações entre os membros da família.
Todos conhecemos a “Cachaça 51”, dona do slogan “uma boa ideia”, já consolidado na cultura brasileira.
A empresa foi criada por Guilherme Müller Filho, em 1959, em Pirassununga/SP, dominando seu mercado até 2005. Porém, com o falecimento de seu fundador, o qual ao planejar a sucessão não previu a possibilidade de conflitos entre seus herdeiros, destruíram o seu legado.
O resultado das brigas…. intermináveis processos judiciais que prejudicaram a posição da empresa em seu mercado e deterioraram o seu patrimônio, sem contar o prejuízo ao patrimônio pessoal de cada um dos herdeiros.
Contudo, este não é um caso isolado.
A história traz muitos exemplos de grandes empresas destruídas por conflitos entre os membros da família que somente beneficiaram os seus concorrentes e aqueles interessados em adquirir a empresa por valor menor.
A família Matarazzo, a qual era detentora de amplo patrimônio, com ênfase na indústria têxtil, viu seu patrimônio sucumbir a conflitos.
Tais conflitos tinham algo em comum: a briga pelo poder e a falta de profissionalização da gestão.
Tais discordâncias também existem em empresas familiares menores.
Quando há conflitos, há muito mais a perder do que o patrimônio familiar, prejudica-se a harmonia das relações familiares!
Um breve histórico: famílias que construíram legado que sobreviveu ao tempo
Por sua vez, há empresas familiares que resistiram ao tempo, às crises e à mudança de gerações.
Empresas familiares como Droga Raia, Magazine Luíza, Grupo Votorantim e a Lupo sobreviveram às crises e guerras e cresceram em um ambiente político econômico instável, como o brasileiro.
Vamos observar tais empresas primeiramente pela perspectiva dos fatores externos como crises político-econômicas, guerras e conflitos.
Crises certamente representam um grande desafio, mas também podem ser vistas como oportunidade de negócios, na medida em que para se adaptar novos nichos de mercado podem ser explorados.
A Droga Raia, fundada em 1905, por exemplo, em meio à Gripe Espanhola (1917 – 1918), notou a procura por medicamentos e atendimentos durante a madrugada e passou a atender 24 horas por dia.
A Lupo, empresa centenária do setor têxtil, conhecida pela fabricação e comercialização de meias, durante a pandemia do COVID 19 investiu na inovação tecnológica para aprimorar as vendas no mundo digital e melhorar sua eficiência e a experiência do consumidor.
Ainda, ao observar a necessidade do mercado por máscaras faciais, destinou parte de sua produção ao desenvolvimento e fabricação de máscaras. O que, em conjunto com a inovação tecnológica, levou ao crescimento da marca, por meio do aproveitamento de capacidade produtiva ociosa.
Podemos depreender destas duas histórias de sucesso que sobrevivência e crescimento podem vir da observação e compreensão da realidade para se buscar oportunidades!
Acima, falamos apenas de alguns casos de sucesso, há tanto outros que podem ser analisados como da Granado ou Havaianas.
Ao analisar os fatores internos, quais sejam, os conflitos familiares e suas ramificações, citamos os casos de patrimônio familiar dilapidados por conflitos, como a “Cachaça 51” da Família Muller, além da Família Matarazzo.
Conflitos familiares interpessoais e a briga pelo poder podem ser evitados por meio da profissionalização da gestão.
A escolha de sucessores deve fundamentar-se nas aptidões de cada um deles. O objetivo: a preservação do legado.
Então, o que essas empresas têm em comum, que permitiu a reinvenção, o crescimento e a inovação, além da preservação do patrimônio?
Qual a estratégia adotada pelas famílias que perpetuaram o legado?
Se o patrimônio familiar nasce dos sonhos e valores pessoais de seus fundadores, os quais se sacrificam para a construção de um legado a ser deixado para as gerações futuras.
Porém como saber se seus herdeiros e sucessores estão aptos ao desafio de preservar o que foi construído e expandir o patrimônio!?
Investir na profissionalização da gestão dos negócios, para que não haja briga pelo poder e todos aqueles membros da família envolvidos na gestão do negócio estejam preparados e aptos para tanto é a melhor forma de se preservar o legado.
A profissionalização é o que distingue as empresas familiares que sobreviveram e cresceram em meio às crises daquelas que tiveram de fechar suas portas e encerrar suas atividades.
Seja por meio da contratação de terceiros que detenham o conhecimento técnico necessário, seja por meio da preparação dos membros da família para que estejam aptos à gestão, a profissionalização é elemento essencial para a preservação do patrimônio.
Além disso, há instrumentos jurídicos como contrato ou estatuto social e acordo de sócios que podem evitar a briga pelo poder e, desde logo, especificar as formas para a resolução de conflitos, obrigações e direitos de cada parte, dentre outras.
Tais regras devem ser determinadas de maneira clara e serem de conhecimento de todos os envolvidos no processo de sucessão.
Importante lembrar que não há uma fórmula exata a ser seguida, para cada família, há variáveis a serem consideradas na elaboração dos documentos.
Quais os passos para a profissionalização da gestão?
Você deve estar se perguntando, “como avaliar o que é melhor para a minha família”?
Primeiramente, profissionais especializados analisarão o perfil de cada personagem envolvido na família, o negócio construído e os riscos a ele inerentes, as características da unidade familiar e o desejo de seu patriarca ou matriarca, para avaliar a melhor opção.
Então, inicia-se um processo que engloba desde a preparação técnica de herdeiros e sucessores, contratação de profissionais que possuam os conhecimentos necessários para a continuidade do negócio familiar até a elaboração de documentos legais.
É necessário avaliar os interesses e aptidões pessoais de cada herdeiro, se estes convergem com as necessidades do negócio familiar.
Para aqueles cujas qualidades possam contribuir ao negócio, deve ser iniciado um processo de preparação, o qual inclui o conhecimento da área de atuação e da empresa, por si só, bem como a participação em cursos específicos e do segmento de mercado, para que estes estejam preparados para comandar a pessoa jurídica.
Também é possível se optar pela contratação de terceiro que possa agregar valor ao negócio, seja por sua experiência, seja por seu conhecimento.
Os herdeiros dos fundadores podem permanecer como proprietários da empresa, porém só participam da gestão aqueles aptos para tanto, sendo remunerados por sua dedicação.
Os demais herdeiros continuam a deter o direito de receber lucros e dividendos ou, ainda, de serem informados acerca dos negócios sociais sem, contudo, participar diretamente da administração.
As obrigações daqueles que participam da gestão e os direitos daqueles que não o fazem estarão descritos em documentos legais, plenamente eficazes.
Pode-se, inclusive, prever as regras para a retirada de sócio da empresa e para o ingresso de futuros membros da família.
Tais documentos não trazem consigo apenas direitos e deveres entre os envolvidos, mas também podem ser uma importante ferramenta para a harmonia entre os membros da família, na medida em que evitam a disputa pelo poder.
Crescimento em meio aos desafios
As empresas familiares cuja gestão é profissionalizada estão mais próximas de gerir a sociedade em meio às crises e de buscar nova oportunidade de negócios, como é o caso da Droga Raia, Lupo e da Vinícola Miolo.
Hoje, a sobrevivência de um negócio está diretamente ligada à sua capacidade de adaptação e superação dos desafios, bem como à inovação tecnológica e modernização da marca.
A profissionalização, neste aspecto, é uma poderosa ferramenta para se alcançar esses objetivos, além de ter o potencial de aumentar o patrimônio familiar!
Conhecimento e a assessoria jurídica por profissionais especializados são ferramentas essenciais à construção de seu patrimônio e de sua família!
Os profissionais do Azevedo Neto Advogados estão à disposição de seus clientes e parceiros para maiores esclarecimentos e eventual estruturação estratégica!
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